terça-feira, 23 de março de 2010

Construir uma pilha na aula
Angela Turricchia, Grazia Zini et Leopoldo Benacchio
Tradução: Sílvia Duarte
Considerações iniciais
Actualmente, um grande número de brinquedos utiliza pilhas. As crianças estão
habituadas a comprá-las, colocá-las e mudá-las, mas não conhecem o seu
funcionamento. No entanto, a introdução da electricidade na vida quotidiana, quer
provenha das centrais eléctricas ou mais simplesmente das pilhas, mudou
profundamente o nosso modo de vida.
Pelos seus trabalhos, Volta ocupa um lugar extremamente importante no
desenvolvimento das realizações técnicas à base de electricidade. O estudo da
sua vida, da sua obra e em particular da pilha que inventou, é particularmente rico
de sentido e adaptado aos programas de ciências das escolas básicas. A pilha
colocou à disposição dos homens uma nova forma de energia muito flexível, o que
lhes permitiu desenvolver a produção de electricidade.
Se a realização de uma pilha de Volta, muito simples e económica, pode ser
feita em aula, a teoria que subjaz esta actividade é bem menos simples de
conceber : ela necessita efectivamente de introduzir a noção de partícula
carregada, ou dito de outra forma o electrão, do qual os alunos não têm um
conhecimento concreto.
Preparar a aula na turma
A carta de Volta à Royal Society
Como ponto de partida para esta actividade, poderemos apoiar-nos na
descrição feita por Volta na sua carta dirigida em 1800 ao presidente da Royal
Society, um texto simples e acessível:
«Vou dar aqui uma descrição mais detalhada deste aparelho e de alguns outros
análogos, assim como das experiências relacionadas que são mais importantes.
Forneci-me de algumas dúzias de pequenas placas redondas ou discos de cobre,
de latão, ou melhor de prata, com cerca de uma polegada de diâmetro (por
exemplo as moedas), e um número igual de placas de estanho, ou o que é
bastante melhor, de zinco com aproximadamente a mesmo formato e grandeza –
digo aproximadamente porque a precisão não é necessária, e em geral a
grandeza assim como o formato das peças metálicas é arbitrária ; devemos ter
apenas o cuidado de as poder arrumar comodamente umas sobre as outras em
forma de coluna. Preparo, por outro lado, um grande número de rodelas de cartão,
de pele ou de qualquer outra matéria esponjosa, capaz de embeber e reter muita
água ou o humor, pois é preciso para o sucesso destas experiências que elas
estejam bem molhadas. Estas fatias ou rodelas, às quais chamarei discos
molhados, faço-as um pouco mais pequenas do que os discos ou pratos
metálicos, para que interpostos a estes, da forma que direi mais adiante, não
ultrapassem os limites.»
Este texto incentivará os alunos a reproduzir o empilhamento descrito.
Como funciona uma pilha?
A imagem que temos do objecto que Volta apresenta é a de um empilhamento
regular de discos de cobre e de zinco separados por um cartão impregnado de
água salgada. As crianças poderão também compreender de onde vem o nome da
pilha ! Os discos de cobre e de zinco são chamados « eléctrodos » e a solução de
sal, « electrólito ». São as reacções químicas entre estes diferentes componentes
que vão dar origem à electricidade, isto é, a uma circulação de electrões (toda
esta nomenclatura será introduzida pelo britânico Michael Faraday em 1834, ao
mesmo tempo do resto da terminologia electroquímica).
Para Volta, a produção de electricidade devia-se essencialmente ao contacto
entre estes três elementos, mesmo que tenha compreendido a importância da
solução para a « passagem das partículas carregadas ». Para preparar as
actividades da aula, é importante compreender como funciona uma pilha, mas
sempre com consciência de que isto não está ao nível dos alunos de 1º Ciclo. A
pilha de Volta comporta um eléctrodo de cobre « reduzido » sob a acção do
electrólito : libera electrões que se vão associar com os iões H
+
do electrólito e
migrar até ao eléctrodo de zinco, produzindo uma corrente eléctrica (se um circuito
está constituído, isto é, se os eléctrodos estão ligados por uma sequência de
condutores).
Podemos dizer que o eléctrodo de cobre «perde» electrões : diz-se que está
« carregado positivamente » (torna-se o pólo positivo). Pelo contrário, o eléctrodo
de zinco dissolve-se parcialmente na solução e « ganha » electrões : diz-se que
está « carregado negativamente » (torna-se o pólo negativo). Estabelece-se uma
tensão entre os dois pólos da pilha.
O cátodo (isto é o cobre) recompõe-se em permanência : o cobre tendo reagido
com a solução é reconstituído graças aos electrões « recuperados » no circuito.
Só o eléctrodo de zinco (isto é o ânodo) é consumido. O processo pode então
continuar até o eléctrodo esteja completamente dissolvido.
O material
Propomos utilizar moedas : trata-se de uma solução simples, sobretudo desde a
introdução do euro. Sugerimos utilizar as moedas de 20 cêntimos fundidas numa
liga de cobre particular a que temos o hábito de chamar « Ouro Nórdico » e que
compreende 89 % de cobre, 5 % de zinco, 5 % de alumínio e 1 % de estanho,
assim como moedas de 5 cêntimos em aço revestido a cobre : um material
experimental fácil de encontrar e… reciclável ! Há uma única dificuldade, estas
moedas são pequenas e empilhá-las origina a um edifício frágil e instável. As
turmas confrontadas com este problema escolheram construir uma base sobre o
modelo daquela descrita por Volta, utilizando um bocado de poliestireno, sobre o
qual repousa o empilhamento (podem-se consultar os desenhos no CD-ROM).
Algumas recomendações
A propósito da actividade, os alunos deverão nomeadamente identificar os dois
pólos da pilha. Contudo, a designação dos pólos « mais » e « menos » está
determinada por convenção. Para evitar induzir as crianças em erro e acabar com
as ideias falsas sobre o sentido da corrente, é importante que os professores
possam responder a esta questão (e a outras deste tipo).
As pilhas podem ser perigosas : as normas de segurança da Comunidade
Europeia indicam-nos que não podemos aplicar ao corpo humano uma tensão
superior a 24 V, tensão que se obtém com três pilhas de 9 V postas em série (é
muito importante que nos lembremos deste limite, quando trabalhamos com
alunos).
As pilhas podem poluir o nosso ambiente : algumas (as pilhas tipo « botão »)
contêm mercúrio nocivo para o meio em que vivemos. Um problema que é preciso
apresentar aos alunos, convidando-os à colecta e à triagem dos desperdícios…
É importante, por fim, que os alunos possam observar o que as pilhas contêm,
mas só o professor as deverá abrir. Acerca disto, será mais apropriado escolher
uma pilha plana pois as pilhas cilíndricas estão muitas vezes « blindadas » e são
impossíveis de abrir!
Construir uma pilha na aula
Iniciar a reflexão
Para começar, podemos convidar os alunos a trazer para a aula as diferentes
pilhas, que têm em casa : conseguiremos, assim, juntar pilhas planas, pilhas
cilíndricas, pilhas salinas ou alcalinas… pedir-lhes-emos em seguida para se
interrogarem sobre a origem e o destino de cada tipo de pilha. É igualmente
possível partir da observação de um jogo que funciona com pilhas e perguntar aos
alunos : « O que é que faz o jogo funcionar ? » A discussão que se seguirá
permitirá estabelecer uma lista das funções da pilha e dos seus modos de
utilização. Poderemos, se necessário, tirar a pilha do jogo para mostrar que já não
funciona. Qualquer que seja a opção escolhida, propomos levar os alunos a
reflectir sobre a origem da pilha e a ler o texto de Volta para fabricar a sua própria
pilha.
Que material utilizar?
Poderemos então listar o material utilizado por Volta e imaginar quais os
objectos da vida quotidiana que os poderão substituir:
Definir um protocolo
Definiremos em seguida um protocolo para fabricar a pilha :
– pegar na base de poliestireno e fixar espetos da maneira a que estejam
perfeitamente verticais : obteremos assim uma estrutura que impedirá os discos
empilhados de cair;
– fazer « sanduíches » de moedas de 20 e de 5 cêntimos com um pequeno disco
de algodão embebido em sumo de limão,(ou de água salgada), ao centro;
– deslizar e empilhar as sanduíches sobre a estrutura de apoio.
Durante o fabrico da sua pilha, os alunos aperceber-se-ão que devem ter
determinadas precauções:
– quando os discos de algodão são pressionados (particularmente, aqueles
situados na base do empilhamento), perdem o seu sumo de limão, o que torna a
pilha menos eficaz (os alunos descobrirão assim o papel do electrólito : se o sumo
secar, este não cumpre a sua função). Para reduzir este efeito, podemos intercalar
algodão entre todas as moedas. Volta não tinha compreendido a importância do
electrólito, pensava que a electricidade era gerada pelo contacto entre dois metais
diferentes!
– é preciso lembrar que os discos de algodão devem ser mais pequenos do que
as moedas, de modo a evitar que dois bocados de algodão se toquem (Volta
indica-o bem no seu texto).
Podemos utilizar um « controlador » para testar a pilha e compará-la a uma
pilha de comércio. Uma criança fez a seguinte exclamação : «Mas é impossível,
com a minha pilha, li 195 [mV], e com a pilha que comprei, li 1 590!» Depois da
discussão, os alunos admitiram que para obter os mesmos resultados da pilha
comprada, eram precisos oito empilhamentos em série.
Volta utilizou
20 discos de cobre de 4 cm de diâmetro
20 discos de zinco de 4 cm de diâmetro
20 discos de papel prensado
Uma solução de água salgada para molhar os discos de papel prensado
Três hastes fixadas verticalmente sobre uma base de madeira
Nós podemos utilizar
20 moedas de 20 cêntimos de euro
20 moedas de 5 cêntimos de euro
20 pequenos discos de algodão do tamanho de uma moeda de 5 cêntimos
O sumo de um limão para embeber os discos de algodão
Uma base de poliestireno para fixar três pequenas espetadas (ou palhas de
plástico) que manterão o empilhamento.
Em pleno empilhamento
Se os alunos fizerem bem a sua construção, verão que a superfície das moedas
utilizadas está alterada, sobretudo das moedas de 5 cêntimos. « Já não temos
mais moedas, já não vou poder fazer as minhas compras!» queixou-se uma aluna!
Tentámos também fazer a mesma experiência com menos sanduíches, mas os
alunos constataram então que o controlador mostrava um valor mais baixo. Numa
turma, um grupo de alunos procurou construir uma mini-pilha : « Lemos sempre
qualquer coisa… » No decurso desta actividade, é importante deixar os alunos
experimentar todas as suas ideias, sempre prestando atenção para que alterem
apenas um variante de cada vez, condição necessária para compreender de onde
vêm as diferenças de resultado.
Um grupo, cansado de ver os seus empilhamentos caírem, decidiu construir
uma pilha «horizontal»: «Conseguimos colocar mais peças, mas já não tínhamos a
pilha de Volta!» Procuraram então outros textos históricos. Foi assim que a turma
descobriu a « pilha de taças » de Volta. Na experiência realizada pelos alunos,
metade de uma laranja é uma pilha bem mais natural do que a de Volta :
« Procurámos construir uma pilha diferente : plantámos eléctrodos de cobre e de
zinco nas laranjas : precisámos de doze laranjas para acender um lâmpada
pequena. » Os alunos podem utilizar outros frutos e até outros electrólitos (ver a
água) : aperceber-se-ão, assim, que a maior parte funciona. Numa turma,
procurámos mesmo utilizar kiwis e dois copos de água…
E depois?
É possível, para prolongar esta actividade, dar aos alunos pilhas planas e
lâmpadas para abordar os circuitos eléctricos. Podemos formar grupos de quatro
ou cinco alunos, dar-lhes uma lâmpada, fios eléctricos, uma pilha e pedir-lhes que
acendam a lâmpada. Deixe que os alunos tentem e se interroguem sobre a forma
de utilizar a pilha de Volta que terão fabricado na primeira parte da sequência.
Poderão testá-la com uma lâmpada e estudar a noção de circuito fechado. Com
um número limitado de sanduíches, será difícil acender a lâmpada, mas alguns
terão a ideia de associar várias pilhas e observar então o que se passa.
Os alunos poderão também procurar as características das lâmpadas olhando
para as caixas ou para a base das lâmpadas. Esta será uma oportunidade para se
interrogar sobre os valores indicados e as unidades utilizadas e introduzir a
unidade de medida da tensão, o volt, cuja origem poderá ser conhecida das
crianças!

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